Os desafios da mineração
A mineração tem apostado no discurso do “setor indispensável” para o desenvolvimento do país, como se esta razão por si só justificasse qualquer desaforo. Os desafios que a mineração precisa enfrentar ainda não estão na lista de prioridades dos congressos minerários. Embora, sejam nestes, que se encontram as pessoas responsáveis e com poder de decisão para efetuarem as mudanças necessárias, os interesses parecem sempre outros.
Na contramão de uma postura que viria representar algum sinal de mudança, os congressos da última Exposibram deixaram claro os esforços em defesa do sofisma desenvolvimentista. Parece que a crise atual do setor é vista apenas como um “pequeno problema”, coisa pontual que se resolve com discursos e campanha de marketing. Com essa mineração do presente, fica fácil prever qual será a “mineração do futuro”.
O debate sobre o modelo adotado nos processos de produção requer urgência, pois, mitigar a desproporcional geração de rejeitos já deveria ser uma pauta inadiável. Sendo assim, por que ainda não estamos discutindo o assunto? Seria o corporativismo um dos empecilhos razoáveis? A mineração precisa sair da defensiva e enfrentar com coragem os seus verdadeiros desafios. Precisamos criar espaço para ideias antagônicas e assim equilibrar a tentação do discurso previsível.
Como esperar alguma mudança de postura, de fato significativa, se a única preocupação do setor é manter a sua imagem impecável diante de uma sociedade sem voz e economicamente vulnerável? A dependência econômica dos municípios mineradores tornam a vida do setor de certa maneira cômoda. Talvez, seja dai que provém toda essa movimentação voltada para o compromisso de justificativa dos meios.
Infelizmente, o que temos observado é a tendência do setor ir se fortalecendo cada vez mais em torno dos seus interesses. Com o poder financeiro nas mãos e uma sociedade refém da sua atividade econômica, a discussão sobre os rumos da mineração parece ter destino certo.
Evandro Evangelista