Capturados pela Burocraciaㅤㅤ
De forma gradativa ao longo destas últimas décadas, assim como ocorre em outras áreas da indústria, a atividade principal da mineração, que é produzir com eficiência e produtividade gerando valor aos seus acionistas e à sociedade, está sendo invadida e imobilizada por uma burocracia que avança a partir de diferentes frentes: administrativa, financeira, jurídica, contábil, segurança, controle, saúde, reputação, etc., assim como muitas outras atividades laterais que, embora possuam sua importância, praticamente têm tomado conta do cotidiano.
Percebe-se que a produtividade da mineração está sufocada e com pouca energia para produzir o urgente câmbio tecnológico exigido nestes tempos, por causa do empobrecimento dos depósitos minerais e por outros fatores que exigem ousadia profissional consciente, dotada de criatividade, dinamismo e liberdade de ação necessária ao rompimento dos “grilhões” de paradigmas tecnológicos. Neste quadro, se observa que a mineração lança uma espécie de S.O.S. ao mercado, que, no máximo, alcançam as campanhas de “open innovation”, buscando a própria criatividade perdida em ambientes externos de maior liberdade, mas que, via de regra, não carregam as experiências e conhecimentos, exatamente daquilo que deveria ser, de fato, o seu “core business”: extrair da natureza o melhor produto possível com o menor uso dos recursos escassos, em qualquer etapa ao longo da vida útil da mina.
O aparelho burocrático tem cercado a atividade principal fechando portas e janelas que possam representar alguma excepcionalidade, como uma guarda pretoriana que fiscaliza rigorosamente os mínimos riscos, segundo os seus próprios conceitos de risco, de qualquer evento que simbolize mudança no essencial da mineração, porém, sob o pretexto desse mesmo rigor, permite a manutenção do risco de “nada fazer”, aceitando que a mineração siga para o seu submisso empobrecimento.
A engenharia foi capturada e sufocada pela burocracia, fazendo hoje por três ou quatro dólares um projeto que poderia ter sido feito por um ou dois, poupando horas produtivas copiando projetos anteriores e gastando o grosso das HH com o preenchimento de planilhas intermináveis. A cada proposta ou execução de estudo técnico aparecem dezenas de normas a cumprir e procedimentos a adotar que, além de atrasar os trabalhos e ofuscar os resultados, freiam a criatividade e o aporte original de quem é convidado a mudar de perspectiva, justamente pela sua independência e criatividade.
Não se trata apenas de criticar este conjunto de departamentos que nascem diariamente ao redor de quem produz, mas queremos ser objetivos e apontar que o combate ao risco não pode queimar a casa para matar uma barata. Nós, técnicos sabemos e podemos demonstrar – e o Cliente avaliar – os benefícios ou perdas associadas às nossas ações e iniciativas. Ideias produtivas, estudos especialistas, projetos bem executados, trabalhando com maior liberdade, criatividade e assumindo um mínimo de risco profissional, têm como referência balizadora o fruto do nosso aporte, que é simples de avaliar e medir.
É possível quantificar os ganhos e as perdas que toda esta burocracia exerce sobre as atividades principais? Qual o aporte real da burocracia? Temos feito melhores projetos de mineração nestas últimas décadas? Em minha opinião, este último não tem acontecido.
Diferentemente do que vez por outra se observa na burocracia pública, na mineração não se trata de gerar dificuldades para depois vender facilidades, mas a “burocracia mineral” busca externalizar os riscos. Quaisquer riscos: os próprios da atividade mineral e até mesmo riscos que beiram à potencialidade imaginária. Cria-se barreiras para manter intocado (ou fazê-lo parecer intocado) o “negócio” por trás da atividade principal, numa espécie de “deixa quieto”. Daí que mantemos há mais de 40 anos os mesmos projetos copiados um do outro, os moinhos SAG, a política do “moi e flota tudo” e uma imobilidade tão grande que, mesmo observando como as mineradoras estão sendo devoradas pela burocracia, temos medo de apontar e de nos rebelar, prisioneiros do nosso próprio melindre e timidez técnica. Temos assistido na mineração a sua própria versão da “Síndrome de Estocolmo”, onde a tecnologia, refém da burocracia que a subjuga, passa a legitimá-la e até mesmo nutrir por ela uma paralisante empatia!
Alexis Yovanovic
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