O “otimismo” dos grandesㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ

Houveram 15 mil participantes no recente “e-mineração” organizado pelo IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração; 600 empresas interessadas em fazer negócios com mais de 20 mineradoras; 208 reuniões de rodadas de negócios; 12 palestras; 15 apresentações de startups; 27 lives. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, confirma o bom desempenho da indústria da mineração brasileira, mesmo diante dos efeitos nefastos da pandemia do novo coronavírus. Segundo ele, a receita advinda da produção mineral brasileira no 1º semestre de 2020 foi 1% superior à do 1º semestre de 2019, e o saldo da balança comercial mineral no 1º trimestre, já com a crise da covid-19 instalada nos países da Ásia e Europa, foi de US$ 5,2 bilhões.

Embora tenha sido previsível a análise otimista apresentada pelo ministro, o sucesso da elite mineral confirma o fato deste restrito grupo ser “à prova de tragédias”, nem sempre pela sua própria eficiência técnica, mas principalmente quando a mineradora atinge uma posição de escala global a partir da qual se imuniza perante problemas de qualquer tipo. Esta posição de imunidade talvez possa ter sido alcançada por algumas das 20 mineradoras presentes no citado evento.

IBRAM organizou e espalhou o seu particular otimismo no e-mineração para milhares de participantes, onde se esperava algo mais que uma exibição de resultados excepcionais por parte das anfitriãs ou expectativas de apoio cogitadas para que algumas “juniores” possam continuar perfurando indiscriminadamente o solo brasileiro.

Esperava-se de um grande evento como este uma distribuição efetiva do sucesso obtido por aqueles poucos “otimistas”; uma resposta real para o dia-a-dia e para a economia nacional; propostas para uma maior produção e consumo nacional de aço; para o consumo local dos nossos minérios; para melhorar a logística; para pagar oportunamente os seus tributos e obrigações; para fabricar e comprar no Brasil os trilhos, vagões, locomotivas e navios; para cuidar melhor do meio ambiente; para liderar, verticalizar e espalhar a atividade econômica dentro do Brasil e, ainda, para abrir novas vagas de emprego.

Para as grandes, o preço das commodities reage positivamente ante catástrofes, como aconteceu em duas tragédias ambientais recentes, onde a elevação do preço do minério de ferro fortaleceu o caixa das empresas responsáveis. Durante a pandemia, algumas grandes mineradoras chilenas estão operando com quase a metade da dotação laboral, muito próximos da capacidade nominal de produção (há diversas explicações para isso), protegidas pelo aumento de preço do Ouro e do Cobre. Parece que não há desastre, tragédia ambiental ou pandemia que derrube o otimismo natural de quem extrai milhões de toneladas de minério e logo vende ao mercado global.

Situações como essa nos fazem concluir que é bom crescer ou ficar dentro dos grandes e ficar imune perante catástrofes ou malfeitos, para encontrar uma zona de conforto permanente, onde mediocridades possam ser fantasiadas por uma boa apresentação. Lamentavelmente, devemos também concluir que essas histórias de eficiência, qualidade total, otimização, excelência operacional e outras receitas de sucesso encontradas em livros de aeroporto parecem ser apenas escritas para nós, profissionais e pequenas empresas da área mineral, obrigatoriamente comprometidos em fazer bom, bonito e barato, justamente para aqueles “otimistas”.

Alexis Yovanovic

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